Um corolário saudável disso é a ideia
preconcebida e preestabelecida de que Deus, Nossa Senhora têm o direito de nos
tratar — se pudéssemos nos exprimir assim, sem blasfêmia — do modo mais “despótico”
que se possa imaginar, permitindo que nos aconteçam as coisas aparentemente
mais irracionais, mais arbitrárias e mais pungentes. Isso é inteiramente
natural, porque corresponde a essa desproporção. Portanto, não temos que
reclamar, nem estranhar, nem alegar direitos, nem nada disso.
Um aspecto que me
impressionava em mamãe era notar como se davam os acontecimentos mais
imprevistos e, debaixo de certo ponto de vista, mais ilógicos, e ela os tomava
como se fossem a coisa mais natural do mundo.
Mamãe não tinha
direitos a alegar perante Deus. Ele era Senhor dela, como de todas as
criaturas, podendo fazer o que bem entendesse. Ela sabia que isso correspondia
a desígnios de misericórdia d’Ele. Mas existe aquele mistério: Nosso Senhor
Jesus Cristo pediu para se afastar o cálice d’Ele “se possível”. Ora, para Deus
tudo é possível! É um mistério, porque Deus quis que o holocausto fosse até lá.
E da parte do Divino Redentor, a plena submissão, como quem dissesse: “Diante
de vossos desígnios absolutos, de vossos direitos, de vossa sabedoria Eu Me
dobro. Dai-Me apenas forças.” Isso eu notava em Dona Lucilia muitíssimo.
Ela rezava com muito
afeto, e sua devoção ao Sagrado Coração de Jesus, a Nossa Senhora, era muito
impregnada de ternura. Mas ela rezava com muito empenho quando queria obter as
coisas. Entretanto se não as obtivesse, era com uma naturalidade, uma paz de
alma, a maior do mundo!
Naquela fotografia em
que mamãe tem aproximadamente 50 anos de idade, ela está cheia disso.
Encontra-se na voragem da dor, mas não pergunta a Deus por quê. É assim e deve
ser assim. Há um desígnio de Deus e a vida consiste em cumprir os desígnios de
Deus. E, portanto, se é assim não se discute. O que é uma posição
fundamentalmente anti-igualitária.
Plinio Corrêa de
Oliveira – Extraído de conferência de 6/7/1985
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