domingo, 18 de maio de 2014

Vida de piedade

Porque vivia intimamente unida ao Sagrado Coração de Jesus, tinha Dª Lucilia seus olhos postos também em Maria Santíssima e na Santa Igreja Católica. Atraída pelas infinitas perfeições do Divino Mestre, pela incomensurável santidade de sua Mãe Virginal, pela formosura do Corpo Místico de Cristo, ela Os amou o quanto pôde.
Como a casta esposa do Cântico dos Cânticos, ela bem podia dizer a Nosso Senhor: Atraí-me; eu correrei atrás da recendência de vossos perfumes (Cânt 1, 3). Desta devoção aos Sagrados Corações brotava a fonte que irrigava suas qualidades morais. Assim, embebida de piedade, chegou ela aos últimos dias de sua existência.
Não são de admirar as palavras de um prelado que uma vez ou outra a ouvia em confissão, quando ia celebrar a Santa Missa no apartamento dela. Ao lhe pedirem certo dia que novamente a atendesse, respondeu:
— Eu vou confessá-la, mas, coitadinha, ela não tem o de que se acusar.

Este episódio repetiu-se mais duas vezes e foi presenciado por algumas pessoas.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

“Mamãe ensinou-me a amar a Santa Igreja!”

“Mamãe ensinou-me a amar a Santa Igreja!” Com estas palavras, entrecortadas por um copioso pranto, Dr. Plinio, poucos instantes depois de Dona Lucilia exalar seu último suspiro, no dia 21 de abril de 1968, fez-lhe a sua primeira homenagem póstuma. De fato, que maior elogio se pode fazer a uma mãe católica? É esse o sentido mais sublime de sua missão materna: educar catolicamente os filhos.
 “Se eu amo tanto mamãe, é porque ela me conduziu à Igreja. E se eu a amei até o fim, é porque, examinando-a, notei que nela tudo conduzia à Igreja Católica.”1
Dentre os ensinamentos deixados pelo Filho de Deus, encontramos este: “Minha mãe e meus irmãos são os que ouvem a palavra de Deus e a observam” (Lc 8, 21).
Ora, Dr. Plinio mereceu o apelativo de católico, apostólico e romano também por conformar-se plenamente com essas palavras do Divino Mestre, já que o amor devotado por ele à sua mãe, Dona Lucilia, não era unicamente impulsionado por um vínculo humano. Qual era o motivo mais profundo desse amor? Dr. Plinio mesmo o apontou:
“Conhecendo-a, eu tinha uma espécie de confirmação tangível de como era Nosso Senhor Jesus Cristo. Vendo que Ele era infinitamente maior, porém semelhante, eu tinha uma espécie de confirmação na Fé. Quer dizer, se à força de rezar ao Sagrado Coração de Jesus mamãe ficou assim, Ele é ainda muito mais. Olhando para as imagens d’Ele, mais de uma vez eu me lembrava dela; e olhando para ela, mais de uma vez eu me lembrava d’Ele.
“A razão principal de minha benquerença por ela — eu a queria imensissimamente bem — era por ver nela uma discípula de Nosso Senhor Jesus Cristo. No fundo, era um querer bem a Ele, nela.”
“Ela era verdadeiramente uma senhora católica... Ninguém pode imaginar o bem que ela me fez... Eu estudei sua bela alma com uma atenção contínua e era por isto mesmo que eu gostava dela. A tal ponto que, se ela não fosse minha mãe, mas a mãe de um outro, eu gostaria dela da mesma maneira, e daria um jeito de ir morar junto a ela. Mamãe me ensinou a amar a Nosso Senhor Jesus Cristo, ensinou-me a amar a Santa Igreja Católica.”

“Às vezes eu chegava tarde à casa e encontrava minha mãe rezando junto ao Sagrado Coração de Jesus. Ela não estava lá movida por um espírito ascético duro, mas sim por amor.” 
Extraído da Revista Dr Plinio 169

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Uma lamparina aos pés do Sagrado Coração de Jesus

Com o avançar dos anos, Dª Lucilia foi sendo obrigada a reduzir, pouco a pouco, seus afazeres domésticos, pois, como era natural, iam-lhe faltando as forças. Porém, não se deixava ficar inativa e preenchia os períodos livres com sua ocupação preferida: a oração, o silencioso convívio com o Sagrado Coração de Jesus.
Sob o misericordioso olhar da bela imagem, que ainda hoje permanece no mesmo oratório, passava as manhãs em seu quarto, desfiando incansavelmente as contas de seu terço, alternando a recitação do Rosário com as ladainhas e novenas que habitualmente rezava, além de outras orações, em geral tiradas de seu manual de piedade predileto, o Goffiné1, que a acompanhava desde a juventude. Uma das preces de sua preferência era a “Novena irresistível ao Sagrado Coração de Jesus”, que deve ter rezado com maior insistência em períodos de provação.
Dona Lucilia implorava ainda a proteção divina por meio de outra oração, o Salmo 90, que ela copiou com sua bela letra. Esses luminosos versículos, inspirados pelo Espírito Santo, ela certamente os rezava tendo em vista, em primeiro lugar, as pugnas de seu “filhão” e os obstáculos encontrados por ele.
Ao longo do dia, conforme as circunstâncias e as intenções pelas quais rezava, Dª Lucilia fazia suas orações em diferentes dependências da casa: percorrendo vagarosamente o corredor; sentada na sala de jantar enquanto contemplava o pôr-do-sol sobre o arvoredo da Praça Buenos Aires; no quarto de seu filho, diante das imagens que estão sobre o criado-mudo; ou, com mais freqüência, no escritório, sentada na cadeira de balanço, que fazia oscilar quase imperceptivelmente, parecendo envolta em diáfana nuvem de serenidade.
Quem então a visse não saberia dizer se ela interrompera suas orações vocais para meditar, ou vice-versa... pois contemplação e prece formavam um só todo em seu espírito.
Com o advento da ancianidade, Dª Lucilia se habituou a rezar madrugada adentro diante da imagem de alabastro do Sagrado Coração de Jesus, reinante no salão principal do seu apartamento. Quando Dr. Plinio retornava, após uma noite de intensa atividade, ainda a encontrava nesse local, muitas vezes de pé, porte erecto apesar da idade, os lábios bem próximos ao Coração de Nosso Senhor, não raro de olhos fechados e terço na mão. Dava a impressão de haver terminado de falar com Jesus naquele instante.
Conforme a intensidade do empenho ao formular suas intenções, colocava reverentemente a ponta de seus finos dedos sobre os divinos pés ou sobre as adoráveis mãos do Salvador. Quem a visse assim rezar — com tanta humildade, plenamente convicta de ser amada por Nosso Senhor, e receosa de faltar com a delicadeza e a reverência a Ele devidas — não poderia deixar de se comover profundamente.
Quantos pedidos por seus mais próximos, quantas considerações a respeito da vida, das luzes e das cruzes nesta existência terrena, das glórias ou tragédias da Cristandade, não terá ela apresentado ao Divino Redentor?!
Junto ao Sagrado Coração de Jesus, Dª Lucilia se assemelhava em certas ocasiões à chama de uma lamparina que arde diante do Santíssimo Sacramento. Está acesa só para Deus Nosso Senhor, alheia ao ambiente, mas sobretudo não se apaga, não diminui, triunfa suavemente em meio às trevas, intacta em seu como que trono, no seu holocausto, no círculo rubro onde está o azeite do qual se abastece.

Dona Lucilia tanto rezou voltada para a imagem do Sagrado Coração de Jesus do salão, que a esta ficou vinculado, de modo imponderável, algo da pessoa dela. Ainda hoje é um dos objetos que mais evocam a presença dessa bondosa dama no “1º andar”. Nos pés, no joelho direito e nas mãos dessa imagem, ligeiramente marcados por seus ósculos, deixou Dª Lucilia o testemunho da insistência de seus pedidos e da intensidade de seus atos de adoração.