Dona Lucilia via o sofrimento com inteira serenidade, sabendo que tudo
acontece por uma razão mais alta que está em Deus. Vejamos o que comenta seu filho, Plinio Correa de Oliveira, a este respeito.
Para conservar
a serenidade, creio que concorriam as Vias Sacras que Dona Lucilia rezava na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, diante de estações não muito artísticas, porém sérias e piedosas. Em cada uma das estações está representado um sofrimento de Cristo durante sua Paixão. Em todos eles,
Nosso Senhor é
apresentado com uma enorme
serenidade e tranquilidade, por mais que sejam enormes seus sofrimentos. Ele
sofre, sabendo que tem de sofrer, e por isso não toma aquilo como sendo
algo extraordinário e inconcebível.
Contudo, foram tais
os sofrimentos de Nosso Senhor, que nós não podemos sequer imaginá-los.
Tomemos, por exemplo, o estudo realizado
por um médico francês, Dr. Pierre
Barbet, sobre o Santo Sudário de Turin.
Um dos
pontos analisados pelo
afamado cirurgião foi
a posição de
Cristo na cruz. Um prego Lhe atravessava — de uma só vez — os dois pés; outros dois, um em cada punho, prendiam-n’O à Cruz. Caso Ele quisesse
apoiar-se mais nos pés do que nos braços,
para assim aliviar
um pouco a dor, seus pés seriam
rasgados; por outro lado, se Cristo tentasse
aliviar a dor de seus pés, sustentando
o corpo unicamente com os braços,
seus pulsos seriam rasgados.
Em meio a todas estas
dores, Ele permanece calmo, analisando
os dois ladrões crucificados
a seu lado.
De repente, um começa a
blasfemar; o outro, vendo-O se converte e
começa a defendê-l’O. E Nosso Senhor
promete-lhe: “Em verdade te digo: hoje
estarás comigo no paraíso.”2
Donde vemos que,
apesar de todos os padecimentos que Lhe eram
impostos, Cristo mantinha
a certeza de que aquilo iria
terminar, e sua missão seria cumprida.
Olhar sereno que infundia serenidade
Assim era a
serenidade de Nosso Senhor neste terrível passo da Paixão. Frei Pedro de
Cristo, ao compor uma canção que diz “Ojos claros serenos, si pues morís por
mi, miradme al menos — olhos claros serenos, se
morreis por mim, olhai-me pelo menos”, acertou enormemente. Pois, de fato,
se Aquele que, em meio a tantos sofrimentos, conservou tal serenidade, pousasse
o olhar sobre
alguém, isto bastava para infundir-lhe
a mesma paz.
Mamãe, que tantas
vezes vi diante da imagem do Sagrado Coração de Jesus, olhando-O durante longas
horas, talvez tenha recebido d’Ele um olhar,
que bem pode ter sido a causa de haver nela tanta serenidade. Algo
semelhante dava-se com
Dona Lucilia: quem se aproximava dela recebia algo desta serenidade que, em última análise,
vinha de Cristo Nosso Senhor.
Plinio
Correa de Oliveira – Extraído
de conferência
de 11/03/1995