quarta-feira, 16 de novembro de 2016

A vida consiste em cumprir os desígnios de Deus

 Um corolário saudável disso é a ideia preconcebida e preestabelecida de que Deus, Nossa Senhora têm o direito de nos tratar — se pudéssemos nos exprimir assim, sem blasfêmia — do modo mais “despótico” que se possa imaginar, permitindo que nos aconteçam as coisas aparentemente mais irracionais, mais arbitrárias e mais pungentes. Isso é inteiramente natural, porque corresponde a essa desproporção. Portanto, não temos que reclamar, nem estranhar, nem alegar direitos, nem nada disso.

Um aspecto que me impressionava em mamãe era notar como se davam os acontecimentos mais imprevistos e, debaixo de certo ponto de vista, mais ilógicos, e ela os tomava como se fossem a coisa mais natural do mundo.
Mamãe não tinha direitos a alegar perante Deus. Ele era Senhor dela, como de todas as criaturas, podendo fazer o que bem entendesse. Ela sabia que isso correspondia a desígnios de misericórdia d’Ele. Mas existe aquele mistério: Nosso Senhor Jesus Cristo pediu para se afastar o cálice d’Ele “se possível”. Ora, para Deus tudo é possível! É um mistério, porque Deus quis que o holocausto fosse até lá. E da parte do Divino Redentor, a plena submissão, como quem dissesse: “Diante de vossos desígnios absolutos, de vossos direitos, de vossa sabedoria Eu Me dobro. Dai-Me apenas forças.” Isso eu notava em Dona Lucilia muitíssimo.
Ela rezava com muito afeto, e sua devoção ao Sagrado Coração de Jesus, a Nossa Senhora, era muito impregnada de ternura. Mas ela rezava com muito empenho quando queria obter as coisas. Entretanto se não as obtivesse, era com uma naturalidade, uma paz de alma, a maior do mundo!

Naquela fotografia em que mamãe tem aproximadamente 50 anos de idade, ela está cheia disso. Encontra-se na voragem da dor, mas não pergunta a Deus por quê. É assim e deve ser assim. Há um desígnio de Deus e a vida consiste em cumprir os desígnios de Deus. E, portanto, se é assim não se discute. O que é uma posição fundamentalmente anti-igualitária.
Plinio Corrêa de Oliveira – Extraído de conferência de 6/7/1985

sexta-feira, 10 de junho de 2016

A devoção de toda uma vida

Desde os saudosos tempos de Pirassununga, Dª Lucilia conservou especial gosto em rezar diante de uma imagem da Imaculada Conceição, pertencente à família. Nunca se separou dela, mantendo-a em seu quarto, nas sucessivas casas em que residiu após o falecimento de sua mãe. Uma razão a mais para isso era de ter sido essa imagem  objeto  de  particular  devoção de Dª Gabriela.
Piedade aliada ao senso artístico
Esculpida  em  madeira,  fora  trazida de Portugal em meados do século XIX, deixando transparecer ao  mesmo tempo a autêntica piedade e o senso artístico do escultor. A fim de a expor mais  dignamente à veneração de todos, Dr. Antônio decidiu colocá-la  num oratório apropriado.E lá mesmo em Pirassununga encomendou o serviço a um marceneiro que trabalhava junto com a irmã. Pormenor curioso, ambos surdos-mudos, mas, em  compensação,  dotados por Deus de uma extraordinária arte de entalhar a madeira, a  tal ponto que fabricavam móveis de  estilo à altura de figurar nos melhores salões.

Não deixava de ser singular como pessoas tão simples, sem maior cultura  nem  contato  com  os  grandes  centros  urbanos,  tinham  tanto senso artístico. Disso era exemplo o singelo oratório . Anos depois, um antiquário oferecerá significativa quantia por ele. Porém, para Dª Lucilia, não tinha preço um objeto que seu saudoso pai mandara fazer e ao qual estavam ligadas tantas recordações.
Continua...