sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A razão de tanta benquerença

Permanentemente meditativa e com o espírito posto na contemplação do Sagrado Coração de Jesus, Dona Lucilia irradiava em torno de si uma discreta doçura, característica à sua personalidade.
No contato contínuo, de um filho com sua mãe, Plinio Correa de Oliveira sentia em Dona Lucilia algo da doçura de espírito própria a uma alma elevada em altas cogitações:
Não era apenas a doçura de uma pessoa com bom gênio, bom humor, que trata as pessoas bem. Era também isso, mas penetrado por um raio de luz que tornava a bondade dela à maneira da bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Eu percebia perfeitamente que isso era dado por Ele a ela. Era como se tirasse um raio do Sol e com ele dardejasse uma alma; a alma não ficaria com todos os raios do Sol, mas ela ficava cheia daquele raio que ela recebeu.
Assim, mamãe não tinha, nem de longe, todas as virtudes de Nosso Senhor Jesus Cristo — a não ser no grau que um bom católico praticante possa ter —, mas em torno dela havia uma presença de elevação, de tristeza, de bondade, de perdão sem limite, de soledade que a assemelhava a Ele.
Uma soledade cheia de presença
Existia em torno dela uma soledade que não era o vazio; ela não produzia em torno de si o vácuo. A soledade de Dona Lucilia era saturada, impregnada pela irradiação de sua bondade.
Por exemplo, ao vê-la sozinha na cadeira de rodas, na sala de jantar, sentia-se que, embora estivesse fisicamente só, ela enchia a sala de jantar e a casa inteira. Aliás, até hoje a casa de Dona Lucilia tem algo da presença dela.
Confirmação tangível de como era Nosso Senhor Jesus Cristo
Conhecendo-a, eu tinha uma espécie de confirmação tangível de como era Nosso Senhor Jesus Cristo. Vendo que Ele era infinitamente maior, porém semelhante, eu tinha uma espécie de confirmação na Fé. Quer dizer, se à força de rezar ao Sagrado Coração de Jesus mamãe ficou com algo disso, Ele é ainda muito mais. Olhando para as imagens d’Ele, mais de uma vez eu me lembrava dela; e olhando para ela, mais de uma vez eu me lembrava d’Ele.
A razão principal de minha benquerença por ela — eu a queria imensissimamente bem — era por ver nela uma discípula de Nosso Senhor Jesus Cristo. No fundo, era um querer bem a Ele, nela.
É preciso compreender o seguinte: eu nunca notei nela o menor desejo de imitá-Lo fisicamente, o que, aliás, seria inteiramente insuportável, intolerável! Minha amizade, meu afeto por ela se partiriam em estilhaços se eu notasse uma coisa assim. Não era isso.
Era propriamente o que a Doutrina Católica nos ensina de uma alma boa, reta e muito sobrenatural, que recebia esse embebimento d’Ele.
Grande sentimento de apoio
Isso me animou a vida inteira, deu-me alegria nos maiores reveses e aborrecimentos. Era um lado de minha vida, por assim dizer, um jardim de minha vida, em que nunca penetrou o oposto, dando-me um sentimento de apoio muito grande.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 15/4/1989

sábado, 6 de junho de 2015

Jesus sofredor, modelo de serenidade seguido por Dona Lucilia

Dona Lucilia via o sofrimento com  inteira serenidade, sabendo que tudo acontece por uma razão mais alta que está em Deus. Vejamos o que comenta seu filho, Plinio Correa de Oliveira, a este respeito.
Para  conservar  a  serenidade,  creio que concorriam as Vias Sacras  que Dona Lucilia rezava na Igreja do Sagrado  Coração de Jesus, diante de estações  não muito artísticas, porém sérias e  piedosas. Em cada uma das estações  está representado um sofrimento de  Cristo durante sua Paixão. Em todos  eles,  Nosso  Senhor  é  apresentado  com uma enorme serenidade e tranquilidade, por mais que sejam enormes seus sofrimentos. Ele sofre, sabendo que tem de sofrer, e por isso não toma aquilo como sendo algo  extraordinário e inconcebível.
Contudo, foram tais os sofrimentos de Nosso Senhor, que nós não podemos sequer imaginá-los. Tomemos,  por exemplo, o estudo realizado por  um médico francês, Dr. Pierre Barbet,  sobre o Santo Sudário de Turin. 
Um  dos  pontos  analisados  pelo  afamado  cirurgião  foi  a  posição  de  Cristo na cruz. Um prego Lhe atravessava — de uma só vez — os dois  pés; outros dois, um em cada punho,  prendiam-n’O à Cruz. Caso Ele quisesse apoiar-se mais nos pés do que  nos  braços,  para  assim  aliviar  um  pouco a dor, seus pés seriam rasgados; por outro lado, se Cristo tentasse  aliviar a dor de seus pés, sustentando  o corpo unicamente com os braços,  seus pulsos seriam rasgados. 
Em meio a todas estas dores, Ele  permanece calmo, analisando os dois  ladrões  crucificados  a  seu  lado.  De  repente, um começa a blasfemar; o  outro, vendo-O se converte e começa  a defendê-l’O. E Nosso Senhor promete-lhe: “Em verdade te digo: hoje  estarás comigo no paraíso.”2
Donde vemos que, apesar de todos os padecimentos que Lhe eram  impostos,  Cristo  mantinha  a  certeza de que aquilo iria terminar, e sua  missão seria cumprida.
Olhar sereno que infundia serenidade
Assim era a serenidade de Nosso Senhor neste terrível passo da Paixão. Frei Pedro de Cristo, ao compor uma canção que diz “Ojos claros serenos, si pues morís por mi, miradme al menos — olhos claros serenos, se  morreis por mim, olhai-me pelo menos”, acertou enormemente. Pois, de fato, se Aquele que, em meio a tantos sofrimentos, conservou tal serenidade,  pousasse  o  olhar  sobre  alguém, isto bastava para infundir-lhe  a mesma paz.
Mamãe, que tantas vezes vi diante da imagem do Sagrado Coração de Jesus, olhando-O durante longas horas, talvez tenha recebido d’Ele um olhar,  que bem pode ter sido a causa de haver nela tanta serenidade. Algo semelhante  dava-se  com  Dona  Lucilia:  quem se aproximava dela recebia algo  desta serenidade que, em última análise, vinha de Cristo Nosso Senhor.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 11/03/1995